A.) Alguns conceitos deficientes sobre o que determina a canonicidade
– A concepção de que a idade determina a canonicidade
– A concepção de que a língua hebraica determina a canonicidade
– A concepção de que a concordância do texto com a Tora determina a sua canonicidade
– A concepção de que o valor religioso determina a canonicidade

B.) A canonicidade é determinada pela inspiração

C.) Os princípios de descoberta da canonicidade
– São discerníveis cinco critérios básicos, presentes no processo como um todo: (1) O livro é autorizado – afirma vir da parte de Deus? (2) É profético – foi escrito por um servo de Deus? (3) É digno de confiança – fala a verdade acerca de Deus, do homem, etc.? (4) É dinâmico – possui o poder de Deus que transforma vidas? (5) É aceito pelo povo de Deus para o qual foi originalmente escrito – é reconhecido como proveniente de Deus?

D.) Os três passos mais importantes no processo de canonização
– Há três elementos básicos no processo genérico de canonização da Bíblia: a inspiração de Deus, o reconhecimento da inspiração pelo povo de Deus e a coleção dos livros inspirados pelo povo de Deus. Um breve estudo de cada elemento mostrará que o primeiro passo na canonização da Bíblia (a inspiração de Deus) cabia ao próprio Deus. Os dois passos seguintes (reconhecimento e preservação desses livros), Deus os incumbiria a seu povo.

E.) A diferença entre os livros canônicos e outros escritos religiosos
– Nem todos os escritos religiosos dos judeus eram considerados Canônicos pela comunidade dos crentes. E óbvio que havia certa importância religiosa em alguns livros primitivos como o livro dos justos (Js 11). 13), o livro das guerras do Senhor (Nm 21.14) e outros (v. 1 Rs 11.41). OS livros apócrifos dos judeus, escritos após o encerramento do período do Antigo Testamento (c. 400 a.C), têm significado religioso definido, mas jamais foram considerados canônicos pelo judaísmo oficial. A diferença essencial entre escritos canônicos e não-canônicos é que aqueles são normativos (têm autoridade), ao passo que estes não são autorizados. Os livros inspirados exercem autoridade sobre os crentes; os não-inspirados poderão ter algum valor devocional ou para a edificação espiritual, mas jamais devem ser usados para definir ou delimitar doutrinas. Os livros canônicos fornecem o critério para a descoberta da verdade, mediante o qual todos os demais livros (não-canônicos) devem ser avaliados e julgados. Nenhum artigo de fé deve basear-se em documento não-canônico, não importando o valor religioso desse texto. Os livros divinamente inspirados e autorizados são o único fundamento para a doutrina. Ainda que determinada verdade canônica receba algum apoio complementar da parte de livros não-canônicos, tal verdade de modo algum confere valor canônico a tais livros. Esse apoio terá sido puramente histórico, destituído de valor teológico autorizado. A verdade transmitida pelas Escrituras Sagradas, e por nenhum outro meio, é que constitui cânon ou fundamento das verdades da fé.

F.) Os livros rejeitados por todos — Pseudepígrafos
– A coleção modelar de “pseudepígrafos” contém dezessete livros. Acrescente-se o salmo 151, que se encontra na versão do Antigo Testamento feita pelos Setenta. A lista principal é a seguinte:
Lendários
1. O livro do Jubileu
2. Epístola de Aristéias
3. O livro de Adão e Eva
4. O martírio de Isaías
Apocalípticos
1. 1 Enoque
2. Testamento dos doze patriarcas
3. O oráculo sibilino
4. Assunção de Moisés
5. 2 Enoque, ou O livro dos segredos de Enoque
6. 2 Baruque, ou O apocalipse siríaco de Baruque *
7. 3 Baruque, ou O apocalipse grego de Baruque
Didáticos
1. 3 Macabeus
2. 4 Macabeus
3. Pirque Abote
4. A história de Aicar
Poéticos
1. Salmos de Salomão
2. Salmo 151
Históricos
1. Fragmentos de uma obra de Sadoque
– De modo nenhum essa lista é completa. Outros são conhecidos, mesmo alguns muito interessantes que vieram à luz quando da descoberta dos rolos do mar Morto.

G.) Os livros aceitos por alguns – Apócrifos
– Esses livros são aceitos pelo católicos romanos como canônicos e rejeitados por protestantes e judeus. Desde a era da Reforma, a palavra ‘apócrifo’ tem sido usada para denotar os escritos judaicos não-canônicos originários do período inter-testamentário.
– Há quinze livros chamados apócrifos (catorze se a Epístola de Jeremias se unir a Baruque, como ocorre nas versões católicas de Douai). Com exceção de 2 Esdras, esses livros preenchem a lacuna existente entre Malaquias e Mateus e compreendem especificamente dois ou três séculos antes de Cristo. Abaixo suas datas e classificação:
Didático
1. Sabedora de Salomão (c. 30 a.C.)
2. Eclesiástico (Siraque) (132 a.C.)
Religioso
3. Tobias (c. 200 a.C.)
Romance
4. Judite (c. 150 a.C.)
Histórico
5. 1 Esdras (c. 150-100 a.C.)
6. 1 Macabeus (c. 110 a.C.)
7. 2 Macabeus (c. 110-70 a.C.)
Profético
8. Baruque (c. 150-50 a.C.)
9. Epístola de Jeremias (c. 300-100 a.C.)
10. 2 Esdras (c. 100 a.C.)
Lendário
11. Adições a Ester (140-110 a.C.)
12. Oração de Azarias (séculos I ou II a.C.) (Cântico dos três jovens)
13. Susana (século I ou II a.C.)
14. Bel e o Dragão (c. 100 a.C.)
15. Oração de Manassés (século I ou II a.C.)

H.) Resumo e Conclusão
– O cânon do Antigo Testamento até a época de Neemias compreendia 22 (ou 24) livros em hebraico, que, nas Bíblias dos cristãos, seriam 39, como já se verificara por volta do século IV a.C. As objeções de menor monta a partir dessa época não mudaram o conteúdo do cânon. Foram os livros chamados apócrifos, escritos depois dessa época, que obtiveram grande circulação entre os cristãos, por causa da influência da tradução grega de Alexandria. Visto que alguns dos primeiros pais da igreja, de modo especial no Ocidente, mencionaram esses livros em seus escritos, a igreja (em grande parte por influência de Agostinho) deu-lhes uso mais amplo e eclesiástico. No entanto, até a época da Reforma esses livros não eram considerados canônicos. A canonização que receberam no Concílio de Trento não recebeu o apoio da história. A decisão desse concílio foi polêmica e eivada de preconceito.
– Que os livros apócrifos, seja qual for o valor devocional ou eclesiástico que tiverem, não são canônicos, comprova-se pelos seguintes fatos:
1. A comunidade judaica jamais os aceitou como canônicos.
2. Não foram aceitos por Jesus, nem pelos autores do Novo Testamento.
3. A maior parte dos primeiros grandes pais da igreja rejeitou sua Canonicidade.
4. Nenhum concilio da igreja os considerou canônicos senão no final do século IV.
5. Jerônimo, o grande especialista bíblico e tradutor da Vulgata, rejeitou fortemente os livros apócrifos.
6. Muitos estudiosos católicos romanos, ainda ao longo da Reforma, rejeitaram os livros apócrifos.
7. Nenhuma igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até a premente data, reconheceu os apócrifos como inspirados e canônicos, no sentido integral dessas palavras. À vista desses fatos importantíssimos, torna-se absolutamente necessário que os cristãos de hoje jamais usem os livros apócrifos como se foram Palavra de Deus, nem os citem em apoio autorizado a qualquer doutrina cristã.
– Com efeito, quando examinados segundo os critérios elevados de canonicidade verificamos que aos livros apócrifos falta o seguinte:
1.Os apócrifos não reivindicam ser proféticos.
2.Não detêm a autoridade de Deus.
3.Contêm erros históricos (v. Tobias 1.3-5 e 14.11) e graves heresias teológicas, como a oração pelos mortos (2 Macabeus 12.45[46]; 4).
4. Embora seu conteúdo tenha algum valor para a edificação nos momentos devocionais, na maior parte se trata de texto repetitivo; são textos que já se encontram nos livros canônicos.
5. Há evidente ausência de profecia, o que não ocorre nos livros canônicos. Os apócrifos nada acrescentam ao nosso conhecimento das verdades messiânicas.
7. O povo de Deus, a quem os apócrifos teriam sido originariamente apresentados, recusou-os terminantemente.
– A comunidade judaica nunca mudou de opinião a respeito dos livros apócrifos. Alguns cristãos têm sido menos rígidos e categóricos; mas, seja qual for o valor que se lhes atribui, fica evidente que a igreja como um todo nunca aceitou os livros apócrifos como Escrituras Sagradas.

Fonte: GEISLER, Norman; Willian Nix. Introdução Bíblica – Como a Bíblia Chegou até nós. São Paulo: Ed. Vida.

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