“Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns” (1 Co 9.22).
Entre as muitas igrejas que prevalecem no Brasil — que realmente fazem diferença em sua comunidade —, a Igreja Batista Central de Fortaleza é uma delas. Em uma mensagem dominical intitulada “Os cinco emes da missão”, Armando Bispo, pastor que a lidera, afirmou que “o evangelismo faz parte de nossa natureza como indivíduos, não pertence exclusivamente a uma casta de pessoas com um chamado exclusivo”.
Nossa lentidão missionária é fruto em grande parte do fato de muitos cristãos se esquecerem de que todos estamos em missão neste mundo, e que não existem na Bíblia pessoas responsáveis exclusivamente por anunciar o evangelho. Lídia, vendedora de púrpura foi missionária, assim como a mulher samaritana, o coletor de impostos, o soldado, os pescadores, o carpinteiro, o fazedor de tendas: todos somos chamados para fazer missões, porque cada discípulo tem um ministério na igreja e uma missão no mundo.
Não posso deixar de citar aqui o fato de que todos nós temos dons diferentes, e isso é o que determina nosso local de atuação. Missões é uma questão de obediência ao chamado e um dos cinco propósitos de Cristo para sua Igreja e cada um de nós. É importante destacar que, por toda a eternidade, adoraremos a Deus, teremos comunhão com ele e com nossos irmãos, serviremos a ele e aos santos em Cristo, cresceremos na fé e aprenderemos sobre ele, mas somente nesta terra faremos missões e evangelizaremos. Naturalmente, precisamos nos dedicar a esse propósito.
Somente alcançaremos todo o mundo para Cristo quando entendermos que missões não é um programa para pessoas especialmente destacadas para isso na igreja ou para aqueles que receberam um chamado para ir a outro país e falar outro idioma: deve ser estilo devida de todo cristão. Portanto, vamos usar todos os meios, convencionais ou não, para evangelizar o mundo para Cristo.
Nas igrejas que prevalecem, acredita-se que o sistema de distribuição de folhetos e cultos ao ar livre são estratégias de evangelismo que vêm dando certo há mais de duzentos anos em muitos lugares do mundo. Contudo, acreditamos que não existem só essas duas formas de evangelismo. Podemos chegar até o homem sem Jesus, em especial aos mais reticentes, com abordagens mais contextualizadas e pessoais. E só aproveitarmos as oportunidades que vão surgindo em nossa cidade. Hoje, estamos com um crescente e forte ministério com mulheres chamadas profissionais do sexo, um grupo ainda não alcançado de nossa realidade local. Qual é o seu grupo?
A igreja não pode ser movida por eventos. Deve, sim, ser orientada por propósitos bíblicos. Os eventos não mudam a vida de ninguém. Eles são estratégias criadas para atingirmos os propósitos de Deus. Por isso, o evangelismo precisa ser estilo de vida de todo cristão, e não um programa de calendário.
Embora os eventos criem condições para que as pessoas se aproximem da igreja, devemos manter neles um ambiente seguro — em que nossos amigos não são constrangidos com o “jeitão” evangélico — e neutro, ou seja, em que o evangelho é apresentado de modo relevante, sem ser hostil.
É muito importante que em qualquer evento e em qualquer lugar o grupo mantenha sua identidade, ou seja, que em algum momento e de uma forma amiga e educada todos saibam que os protagonistas daquela ação pertencem a Jesus. Nossa fé precisa ser verbalizada para que todos a conheçam.
Os eventos também são excelentes oportunidades para que pessoas sem igreja conheçam um cristão e possam ter algum relacionamento com ele, e vice-versa. Nossos amigos precisam perceber em nós um sincero desejo de ter com eles um relaciona-mento íntegro, confiável e eterno.
Devemos ganhar o direito de ser ouvidos por meio de nosso testemunho, da transformação que Jesus fez em nossa vida e da mensagem de que Jesus está pronto para fazer o mesmo na vida deles.
As igrejas relevantes em todo o mundo têm usado eventos-pontes para atrair pessoas até Jesus. Essa característica tem marcado muito nossa abordagem evangelística. A isso chamamos pescaria com múltiplos anzóis. As pessoas são diferentes, e por isso devemos ser criativos e usar todos os tipos possíveis de estratégias evangelísticas para ganhá-las para Jesus. Devemos sair e evangelizar de forma não convencional, levando a criatividade e a arte para fora da igreja; sair das “quatros” paredes do templo e chegar aos lugares em que o povo está.
Lembro-me de que no final de 2001 um dos coros de nossa igreja recebeu um convite para cantar num evento em que apresentariam os alunos da maior e melhor escola de danças de nossa cidade. Seriam quatro apresentações no teatro municipal, onde pessoas da classe artística (um grupo que dificilmente seria alcançado de forma tradicional em nossa cidade) compareceriam em massa. Nas quatro noites, estimava-se uma audiência de cerca de 2 mil pessoas. Diante daquele desafio pioneiro, oramos, refletimos, ponderamos e finalmente aceitamos o convite tendo em mente a visão de nossa igreja, que é ganhar a nossa cidade para Cristo. Como diz Paulo em Colossenses 4.5, é preciso aproveitar cada oportunidade. Aqueles dias marcaram a vida de muitas pessoas e abriram novas portas para a igreja. Por termos cantado durante uma apresentação secular de dança, não significa que deixamos de ser evangélicos ou cristãos batistas. Alguns cristãos de outros segmentos evangélicos não aprovaram nossa atuação, mas nós já decidimos a quem desejamos agradar.
Outro momento que marcou nossa caminhada com eventos-pontes foi a realização de uma festa típica junina, que denominamos “Festa na roça”. Por mais de oito anos consecutivos, temos realizado esse evento, durante o qual há comidas típicas, brincadeiras, trajes típicos, música típica e o pregador a caráter. A festa acontece o dia todo nas dependências da igreja, por onde passam milhares de pessoas. Só convidamos pessoas sem Jesus. Distribuímos convites nas ruas, nas escolas, nas empresas, focando sempre o não cristão. Como essa festa é um acontecimento típico de nossa cidade, não existem barreiras para distribuirmos convites. Mais uma vez, a resistência veio do próprio meio evangélico.
Nos últimos três anos, causamos impacto nos dias do carnaval em nossa cidade e também em uma cidade vizinha. No terceiro ano, fomos considerados o melhor bloco carnavalesco da prefeitura. O fato importante, no entanto, foram as vidas decididas ao lado de Jesus, as orações e os aconselhamentos ministrados. De forma alegre, mas sem se envolver com o pecado do carnaval, temos cantado, falado e abençoado a vida de centenas de pessoas por meio dessa estratégia, que também não agrada a alguns religiosos. Entendemos, entretanto, que Deus nos deu essa missão de alcançar os sem Jesus em nossa cidade, sejam eles garotos de programa, prostitutas, moradores de rua, carnavalescos ou homens de negócios. Vamos aonde o povo está porque cada coração não cristão é um campo missionário.
Como igreja, também promovemos chás para senhoras, sere¬natas de Natal diante das casas de amigos não cristãos, musicais em shoppings e hipermercados da cidade, ações comunitárias — como a Feira do carinho , distribuição das cestas de Natal com cultos inspirativos eu.
Nossa proposta é aproximar o povo de nós e nos aproximarmos dele para evangelizar do modo não tradicional. Com muita criatividade e valendo-nos das inúmeras realidades e contextos do nosso Brasil continental, poderemos evangelizar de muitas formas diferentes.
Aproveitamos os muitos meios para chegar ao coração das pessoas, sempre procurando realizar o melhor. Buscamos constantemente a excelência em tudo o que fazemos. Estou convicto de que igrejas que prevalecem sabem que não podem ver milhões de pessoas sem Jesus e só oferecer um tipo de abordagem para todas elas. As pessoas são diferentes, por isso precisamos oferecer opções. Igrejas tradicionais basicamente só oferecem dois tipos de opções: pegar ou largar. Creio podermos fazer mais do que isso por aqueles a quem Jesus deu a própria vida na cruz.
PENSE E RESPONDA
Em sua igreja, missões é um programa ou um desafio pessoal de vida?
Que tipo de evangelismo contextualizado à sua realidade sua igreja está realizando hoje?
Missões é uma realidade em seu ministério?
Sua igreja fala a linguagem das pessoas que ela deseja alcançar?
Fonte: Igrejas que Prevalecem, Carlito Paes, Editora Vida.